O jornal “O Estado de São Paulo” publicou na sua edição de domingo, 22 de agosto, reportagem de página inteira em que o PCdoB é apresentado como partido “neocomunista” e de “celebridades”. São conceitos alheios à natureza e ao caráter do partido.
Por José Reinaldo Carvalho
O saudoso treinador da seleção brasileira de 1982, Telê Santana, usava uma expressão e tomava uma atitude, típica do rigor com que praticava o seu ofício, toda vez que um jogador, principalmente se fosse um craque, tinha desempenho abaixo da crítica e cometia erros grosseiros na cancha. Mandava-o para a reserva e verberava: “Aos fundamentos”. E lá ia o boleiro, mesmo se estrela consagrada, treinar passe, chute a curta e longa distâncias, cabeceio, cruzamento, bater pênalti e falta, enfim, fazer de novo à exaustão as coisas básicas que tinha por dom ou aprendera nos campos de várzea.
É de se supor que em qualquer outra atividade humana, principalmente nas grandes organizações, as coisas se passam mais ou menos assim. Há momentos em que uma coletividade e as individualidades que a compõem, confrontadas com um desafio maior, uma dúvida, um contraditório, uma claudicação ou mesmo um erro, devem consultar as suas convicções mais profundas e reiterar seus fundamentos. Assim deve ser principalmente com os partidos políticos, comprometidos com mudanças profundas na sociedade e com a luta pelo socialismo. Com maior razão isto é válido para um Partido como o PCdoB, que tem ideologia antípoda à dominante na sociedade capitalista.
Agindo assim, os comunistas, recorrendo aos próprios fundamentos, sem complexos nem satisfações a dar aos inimigos de sempre, que almejam a avacalhação ou destruição do partido, não estão incorrendo em fundamentalismo. Antes, cometem um gesto de grandeza. Do contrário, agiriam permissivamente aceitando quaisquer que sejam os epítetos desonrosos e enganadores, sobretudo quando formados por palavras com o prefixo neo.
O PCdoB é, por óbvio, um partido político dinâmico, influente, imerso na luta política real, praticante de uma política de alianças ampla, profundamente mergulhado nas lutas do povo. Um partido que se renova autocriticamente no fragor das batalhas políticas, aberto ao novo, arejado, composto por milhares e milhares de integrantes provenientes da classe trabalhadora e de outras camadas da população, militantes jovens, intelectuais, artistas, cientistas, desportistas etc. Dialoga com todas as forças políticas, recebe o influxo renovador do pensamento democrático, nacional, desenvolvimentista. O PCdoB está definitivamente rompido com o dogmatismo, atualiza-se, absorve as aquisições do pensamento científico em todos os domínios, dialoga com outras correntes e interpretações da luta pelo socialismo. Sem se afastar do marxismo-leninismo, do socialismo científico.
No plano organizativo e da atividade institucional, eleitoral, parlamentar e governamental exercita audaciosamente novos métodos de incorporação de filiados, homens e mulheres destacados em todos os setores da sociedade. Respeitando os indivíduos, o partido não rende culto ao individualismo.
O líder histórico do PCdoB , o saudoso camarada João Amazonas, dizia, quando começou o impulso de renovação, no congresso de 1997: “O PCdoB é um partido de princípios com feições modernas”.
Portanto, não somos um partido neocomunista, como intitulou o Estadão, ao interpretar declarações de militantes e dirigentes do Partido em reportagem publicada no último domingo, 22 de agosto.
O PCdoB é um partido comunista, sem prefixos nem adjetivos. Sua ideologia é a comunista, baseada nas teorias fundadas por Marx, Engels, Lênin e desenvolvidas por outros pensadores do passado e da atualidade. Trotsquismo e social-democracia são antípodas teóricos, ideológicos e programáticos da teoria, da ideologia e do programa do PCdoB.
O PCdoB é um partido de classe avançado, representa os anseios e as perspectivas da classe trabalhadora, formado por militantes e quadros dedicados a uma causa, sejam ou não lideranças nacionalmente conhecidas. É um partido de gente simples e de lideranças destacadas, não de “celebridades”, conceito pequeno-burguês e vulgar que nada tem a ver com o modo comunista de ser e de lutar.
Quanto à sua organização e funcionamento, o Partido é dirigido por instâncias estáveis, em que pontifica o método coletivo. Tem líderes, não donos ou caciques, cultiva e exerce a unidade política e de ação, jamais grupos. A instância deliberativa maior é o Congresso, cujos delegados elegem o Comitê Central. Este dirige coletivamente o partido através de suas reuniões plenárias e dos órgãos executivos – Comissão Política e Secretariado. Seu dirigente principal, porta-voz mais credenciado, interno e externo, e representante perante as demais instituições da sociedade, é o presidente, Renato Rabelo, reeleito desde o 10º Congresso, em 2001, no exercício do seu terceiro mandato.
O comunismo é a natureza, o elemento, a missão histórica e o ideal do PCdoB, o que não se confronta com a flexibilidade tática, o patriotismo nem o sentido político e de massas de seu atual programa e sua ação.
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