terça-feira, 14 de setembro de 2010

Todo Preconceito .... BURRO

Uma mulher, já em seus trinta e poucos anos, corria com uma criança pequena no colo. Na mão livre, um celular com câmera. Queria alcançar o caminhão momentaneamente parado. Nele ia Netinho, candidato a senador, cumprimentando o povo enquanto o jingle tocava em alto volume. Ela conseguiu o que queria: bater sua foto! Estava cansada da corrida, mas abriu enorme sorriso feliz quando recebeu o cumprimento de Netinho.


Foi numa tarde primaveril, sábado passado, em Itaquaquecetuba e Poá, região metropolitana de São Paulo. Uma das muitas e grandes carreatas de Netinho senador. Na saída, uma concentração popular que logo se dispersou após a fala de Netinho. Estavam lá só para ouvi-lo, embevecidos.

Durante os vários quilômetros seguintes, evidencia-se o verdadeiro apelo que tem a presença de “Neto”. As pessoas de fato saem às ruas, saem das lojas e supermercados em que estão, param seus carros, cumprimentam-no do ônibus em que estão espremidos.

Tirando Dilma e Lula, ninguém hoje é capaz de uma campanha eleitoral assim em São Paulo. Celebridade? Sim. Mas de um tipo que é preciso atentar. Não é símbolo sexual, nem de “cocotagem”. São muitas as moças que o aplaudem à passagem, querem vê-lo e fotografá-lo. Mas são mais ainda mulheres de meia idade, senhoras idosas, e rapazes cumprimentando-o efusivamente, homens amistosos em saudá-lo. Netinho é um deles, parecem dizer. Mas essa é uma história bem conhecida para todos os que não têm preconceito do povo e conhecem a trajetória de Netinho (infelizmente não são todos, inclusive na esquerda). Como ele diz, “seria preciso ter visto seus programas anos a fio, gostar da sua música, viver com seu povo, conhecer o trabalho social e político que fez ao longo desses anos”. Ele não chegou agora. É vereador por São Paulo. Escolheu como via política um partido de escola, o PCdoB, quase centenário.

Netinho pode ser o maior caso eleitoral desta temporada. Pela sua história de vida pessoal, nem tanto, pois remonta a de Lula ou mesmo Alencar. Mas pela campanha, mesmo sob ataques permanentes do PSDB, PSTU e PSOL, ele cresceu e avança nas primeiras colocações. Concorre com pesos pesados como Aloysio, Quércia e Tuma, ao lado de Marta, que tem muito mais força de campanha e é conhecida. Enfim, “um negro, comunista e pagodeiro”, numa campanha de parcos recursos. E por São Paulo!

Lula com seu faro político anteviu: a África do Sul teve Mandela; os norte-americanos elegeram Obama; Netinho no Senado, por São Paulo, será um sinal dos tempos. Já analisei outras ocasiões os por quês e significados dessa candidatura. Concentradamente é a expressão do povo de São Paulo. Seria o caso de se perguntar por que demorou tanto para que obtenhamos uma representação dessas parcelas da sociedade paulista no Senado. Mas a resposta já é por demais conhecida.

Faltam menos de três semanas para a eleição. Não há batalha vencida de antemão. Será dura a jornada. Pela primeira vez, há possibilidades reais de eleger os dois candidatos da chapa Dilma-Mercadante, que são Netinho e Marta, “a loira e o negão” como diz Lula.

Mas, para além de forças de campanha muito desiguais contra Netinho, se movem preconceitos. Um deles mobiliza o episódio da agressão a uma ex-companheira. Todas as pesquisas qualitativas feitas nos segmentos C e D indicam que o episódio é profundamente conhecido e assimilado pelas parcelas populares. Por isso, mesmo sob tais ataques ele cresceu nas pesquisas. Porque ele se explicou para o seu povo que errou, reconheceu o erro e com isso, prestou serviço a milhões mostrando que os homens agressores podem mudar no trato com as mulheres. Fortaleceu assim, a Lei Maria da Penha, a quem levou ao seu programa de TV, porque agressão do homem contra a mulher não é naturalizada, pode ser superada; não é matéria para condenar ao fogo eterno do inferno, como uma certa escatologia de esquerda pretende.

O que se percebe é que o argumento da agressão serviu belamente para camuflar o verdadeiro preconceito, que é o de classe e de cor, fortíssimo em São Paulo. Também por isso, Netinho merece vencer. Uma liderança popular de alto grau, forjada em condições sócio-econômicas e culturais concretas e não nas estufas das classes altas ou do poder. Uma variante importante desse preconceito é imaginar que ele não esteja qualificado para o cargo. Anotem: ninguém deveria subestimar politicamente Netinho. Ele é muito qualificado com sua inteligência viva, muito centrado, comprometido com sua origem social e politizado. Agir no estilo “não vi, mas não gostei”, sobretudo com alguém que fez sua opção política pelo PCdoB, ao lado de Lula e Dilma, que é vereador por São Paulo e arrasta multidões com seu alto poder de comunicação, não é dar prova de muita inteligência. Nelson Rodrigues teve só metade da razão: todo preconceito também é burro

Um comentário:

Nairo Bentes; disse...

muito bom... De quem é esse texto camarada??

um abraço!