terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Comandante Fidel dá adeus. Agora é só companheiro

zé Dirceu

Li, emocionado, na manhã de hoje, que o presidente do Conselho de Estado de Cuba, Fidel Castro, em mensagem publicada pelo jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o Granma, anunciou que não aceita mais continuar no cargo para o qual vinha sendo eleito e ratificado pela Assembléia Nacional desde 1976.“Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega totais, às quais não estou em condições físicas de oferecer. Digo-o sem dramatismo”, escreveu Fidel, afastado do cargo há um ano e meio para tratamento de saúde. "Não me despeço de vocês, desejo apenas combater como soldado das idéias", explicou Fidel a seu povo, ao adiantar que continuará escrevendo no Granma, mas sua coluna "Reflexões do comandante-chefe" passa a se chamar "Reflexões do companheiro Fidel".“A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei – repito – não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-chefe”, insiste ele. A nova Assembléia Nacional, há três semanas, escolherá, no próximo dia 24 os novos Conselho de Estado e Presidente do país.Ao ler a notícia minha memória me transportou à década de 60, mais precisamente 1969, quando eu e um grupo de presos políticos brasileiros fomos trocados pelo embaixador americano no Brasil, Charles Burk Elbrick. Na chegada à Havana fomos recebidos por Fidel. Eu tinha 23 anos, ele, 43, e a Revolução Cubana 10. Foi a primeira vez que o vi e nunca mais aquelas imagens se apagaram da minha mente. Hoje ao ler que deixa a presidência e a direção de Cuba para se manter na trincheira da luta por ideais, apenas como companheiro dos compatriotas e de todos os que abraçaram o socialismo no mundo, sinto a mesma emoção daqueles dias de nossa juventude.Fidel, seu povo e Cuba resistiram 50 anos ao bloqueio criminoso e inumano dos EEUU. Não só sobreviveram com dignidade e condições sociais invejáveis, como prestaram solidariedade às lutas de libertação nacional e contra a opressão em todo o mundo, principalmente na América Latina e na África.
Minha gratidão a Fidel e ao povo de Cuba não tem limites. A solidariedade e apoio que nos deram nos mais difíceis momentos de nossas vidas, quando manter a vida era um risco, são inesquecíveis.
Partilhei com os cubanos seus sonhos, vitórias e derrotas. Vi o povo todo chorar o fracasso da safra dos 10 milhões e as crises enfrentadas pelo país. Apesar do fim da União Soviética, que a ajudou, Cuba sobreviveu com índices sociais de país desenvolvido e resistiu soberana às investidas para subjugá-la e torná-la de novo uma colônia do império. Não é um modelo ou a perfeição do socialismo, mas é um símbolo emblemático a representar a dignidade, a defesa, a independência e a soberania que um povo pode conquistar. Nada da história recente de nossas lutas e do povo da América Latina poderá ser escrito sem Fidel. Ele encarnou o espírito rebelde e irredento do povo Cubano e o dos povos da toda a América Latina em sua luta antiimperialista. Revolucionário, fiel a seus princípios, coerente, sempre aberto ao debate e a luta de idéias, Fidel deixa agora a linha de frente do comando do seu país para continuar como simples companheiro. Sua luta já é parte da História universal.

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