terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uruguai mais vermelho

José Mujica teve um notável resultado na eleição presidencial uruguaia deste domingo (25). Faltaram poucos votos para o legendário ex-líder guerrilheiro tupamaro e ex-preso político fazer o que todos vaticinavam como impossível e triunfar já no primeiro turno.

Em um universo de 2,3 milhões de votantes (com notável participação de 89% dos eleitores), Mujica teve mais de 50 mil votos de vantagem sobre a soma dos dois partidos tradicionais e conservadores – o Blanco e o Colorado. Contando-se apenas os votos válidos, alcançou 49,2%. Os votos do Partido Independente e da Assembléia Popular, que somaram 2,6%, tendem para o candidato progressista.

Em outra notável proeza, desmentindo os augúrios em contrário, a Frente Ampla, que forma a base de Mujica, obteve 49,2% dos votos válidos para o Parlamento. Elegeu 50 deputados e 16 senadores, que lhe asseguram maioria em ambas as casas do Legislativo.

O balotaje (como os uruguaios chamam o segundo turno) deve ser visto como uma outra eleição. Luis Alberto Lacalle, o candidato blanco da direita, conta agora com o apoio de Pedro Bordaberry, da direita mais assumida e estridente.

Além disso, neste mesmo domingo foram derrotadas em plebiscito duas iniciativas legislativas progressistas: a derrubada da "lei da impunidade", que obteve 47% dos votos; e o voto pelo correio para o imenso contingente de uruguaios que teve de emigrar nas últimas décadas, que ficou com 36%.

A vitória não virá portanto por inércia. Mas encontra-se ao alcance da ousadia e talento da notável força que é a militância frenteamplista, nos próximos trinta dias.

A eleição de Mujica significará não só a continuidade mas também o aprofundamento da onda de mudanças iniciada no Uruguai com a vitória de Tabaré Vásquez, também da Frente Ampla, em 2004. Embora concorra com uma plataforma ampla, e tenha como vice um esquerdista moderado, Danilo Astori, Mujica afiançou-se como candidato graças às forças mais consequentes dentro da Frente Ampla, entre elas o Movimento de Participação Popular, ao qual pertence, e o Partido Comunista do Uruguai. Eleito, representará, por sua biografia e atitude, um considerável passo à esquerda para o Uruguai.

É de se esperar que fiquem no passado as vacilações entre o caminho da integração latino-americana e o de um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, que marcaram o governo Vásquez. Assim como a "Crise das Papeleiras", com a vizinha Argentina, e a manutenção dos "fundamentos" caros ao neoliberalismo, em matéria de política macroeconômica – e bem conhecidos dos brasileiros.

A eleição no Uruguai traz lições para o conjunto do movimento antineoliberal e aintiimperialista na América Latina. Ali, como em todo o Continente Rebelde, "vamos para um grande plebiscito entre as duas visões de país que estão disputando o governo" – conforme as palavras de Mujica ao festejar o resultado do 25 de outubro.

No Uruguai como em toda a América Latina, as forças oligárquicas e pró-imperialistas não se conformam nem dão tréguas. Encaram as derrotas que vêm sofrendo nas urnas como o que chamam "ditadura democrática" e o fim do seu poder absoluto como o fim do mundo. Mas desde o Rio Grande até a Terra do Fogo os povos despertaram e vão desbravando os seus caminhos, caudalosos e irreprimíveis como os rios gigantes desta parte do mundo.

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