Recebi um email do camrada Luciano Rezende, vice-presidente da OCLAE(organização Caribenia e Latina Americana de estudantes),o BlogdoRodrigoMoraes publica em primeira mão o artigo que amanha estará no Portal Vermelho.
valeu o furo Camarada Luciano, os leitores do blog agradecem
Goebbels inspira Veja
No dia 12 de outubro último o Vermelho reproduziu excelente artigo do jornalista Ricardo Kauffman intitulado “Os dois Che's da Veja, o de 97 e o de 2007” cujo conteúdo nos convida a refletir sobre os movimentos da mídia. Ricardo compara a matéria de capa da revista Veja sobre Che Guevara em 1997 com a de 2007 e conjectura sobre as causas e motivações da escalada agressiva contra o guerrilheiro. A de 1997 trazia o título “O triunfo final de Che”, já a última ''Che: há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa''.
Kauffman sugere uma visita comparada das duas reportagens da publicação sobre o assunto e se atem especialmente sobre as incongruências, diferenças de tratamentos e visões antagônicas entre as duas matérias.
A estranheza maior do jornalista reside no fato de que a morte de Che foi há quarenta anos e nos últimos dez anos nada de relevância decisiva sobre sua história foi revelado, embora seu mito não pára de crescer. “No entanto, como podemos observar, a visão e os procedimentos jornalísticos que a maior e mais influente revista brasileira tem e propaga diante dos fatos mudou radicalmente no período. Sem maiores explicações ou avisos aos seus leitores”, conclui.
Quais são as razões dessa pretensa disparidade? O local da apuração das informações e a origem das fontes de consulta já seriam boas justificativas, caso se tratasse de outra revista que não essa máquina de doutrinação da direita. Há um “toque de classe” que necessita ser levado em consideração para entender a metodologia empregada e, mais que isso, seus interesses.
A revista Veja faz parte dessa rede mundial de comunicação neomacartista na eterna campanha da desinformação. Um olhar mais atento nos mostra outro fator importante na análise sobre a tática usada por todos os veículos de comunicação e formação da burguesia na satanização de ícones e referências da esquerda : a cronologia dos fatos.
Há uma passagem muito interessante no livro “Stalin, um novo olhar” do escritor belga Ludo Martens em que o mesmo chama atenção para as despudoradas campanhas empreendidas pela burguesia contra figuras ligadas ao socialismo. Na maioria das vezes são investidas grosseiras com objetivo de desmanchar biografias de personalidades cujas vidas foram dedicadas à luta pelo socialismo (ou mesmo contra o imperialismo).
No caso específico de Stálin as acusações de assassinato de inocentes civis por parte da burguesia variam, através de estudos “científicos”, de 500 mil a até 50 milhões, oscilando, entre outras coisas, de acordo com a ordem cronológica da publicação. Uma margem de erro grotesca que com o passar dos anos aumentou vertiginosamente.
Continuando sua linha de raciocínio, Ludo relata um artifício utilizado em suas palestras. Um texto sobre Stálin é distribuído para a classe a qual é solicitada a comentar sobre o teor do artigo logo após a leitura. Todos revelam que se trata de um escrito anti-stalinista embora reconheça os enormes êxitos alcançados pela URSS com Stálin à frente e que relata abertamente o entusiasmo dos jovens e dos pobres pelo bolchevismo. Ludo Martens então revela que o panfleto é uma publicação nazista distribuída em plena Segunda Guerra Mundial e daí conclui que com o passar dos anos, sem a URSS para fazer um contraponto a toda sorte de calúnias, ou mesmo com uma nova geração de russos que não viveram essa época para contestar muitas dessas acusações, vai-se aumentando a dose das acusações, confirmando a tese de Goebbels de que uma mentira dita mil vez pode se tornar verdade. Martens conclui afirmando que as campanhas anti-stalinistas promovidas pelas democracias ocidentais em 1989-1991 eram muitas vezes mais violentas e caluniosas que aquelas levadas no curso dos anos 30 pelos nazistas. Ontem a defesa de Stálin era espontânea a qualquer comunista, hoje é quase uma heresia.
Não é o caso aqui de inocentar ou culpar Stálin (ou quem quer que seja), mas de fazer um simples esforço de raciocínio de entender como a burguesia age para destruir figuras de esquerda em geral, usando os meios de comunicação para “provar” suas teses e outros “estudos científicos” com o passar do tempo. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Da mesma forma aqui no Brasil, se daqui a cinqüenta anos um estudante qualquer de mestrado ou doutorado pesquisar sobre os dois governos Lula tendo como fonte referencial a revista Veja, chegará, inequivocamente, à conclusão de que fomos governados por um despreparado (numa versão mais moderada) que nos solapou a oportunidade histórica de desenvolvimento e outras coisas mais. Particularmente não me espantarei se, chegando aos meus oitenta anos, deparar com algum “diário secreto” descoberto por alguém em que “revele” uma lista sortida de barbaridades cometidas por Lula. É salutar frisar que até mesmo investigações científicas sérias não podem ser concebidas como completamente desinteressadas ou neutras.
Com Che não é diferente. Mesmo gozando de grande reputação, ter uma trajetória distinta de outras figuras comunistas (ou de esquerda) e se tornado um verdadeiro mito, a burguesia não descansará até destruir sua imagem. Mesclando erros verídicos (e naturais) de outros inventados, descolam o personagem de seu contexto e realidade históricos com o objetivo de desmoralizar seu passado.
Ainda hoje temos centenas de pessoas que conviveram com Che em Cuba, Congo, Bolívia e até mesmo no México ou Argentina para fazerem esse importante contraponto através de testemunhos pessoais detalhados. Maioria absoluta delas é convicta em refutar todas as barbaridades disparadas por Veja e outras publicações de direita - como as ilações esboçadas pelo fútil Carlos Heitor Cony em sua coluna do dia 11 de outubro na Folha de São Paulo em que diz que Che foi um péssimo administrador público, o que é refutado pelos cubanos que trabalharam com ele nos primeiros anos da Revolução Cubana. Aí há outro ponto que também merece atenção: as variadas táticas de ataque. Enquanto o ataque da Veja é aberto, o de articulistas da estirpe de Cony é mais velado e mesclado com a defesa de certas qualidades. O bombardeio inimigo é intenso, o arsenal variado e os alvos bem definidos.
Nessa peleja a atuação da UJS do Rio de Janeiro foi exemplar. Não se pode vacilar ante a máquina de formação e (des)informação da burguesia. Uma das expressões da luta de classes é a luta de idéias. A defesa de Che é a defesa do socialismo e a denúncia do imperialismo que assassina e oprime povos por todo o mundo. A sentença da Veja de que ''Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história arremessou há tempos outros teóricos do comunismo'' é válida tão-somente sob sua ótica de classe. Uma vigorosa reciclagem mostrará, mais cedo ou mais tarde, o poder daquilo que a burguesia pensa poder descartar.
Hoje e sempre faremos a defesa de Che. Talvez com o passar dos anos os ataques sejam mais virulentos diante de um mundo que não terá mais as testemunhas oculares das grandes lutas empreendidas a favor dos povos levadas a cabo por Che. Todavia, seguiremos difundindo seus ideais e lutando pelos mesmos sonhos de nosso comandante, que vai se tornando mais real com as vitórias alcançadas pela esquerda em nosso continente na atualidade.
2 comentários:
Sinceramente, não sei porque alguém lê a Veja. Nem de graça eu leio!
No que diz respeito à Stalin, acho nocivo que se defenda ditaduras. A democracia deve ser assumida à todo risco.
obrigado pelo comentário...
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