“Para reparar o que foi feito no Pinheirinho é preciso desapropriação do terreno e a construção das casas para aquele povo, o que restaura não só a dignidade do povo como também a do governador Geraldo Alckmin”. A fala é de Valdir Martins de Souza, morador de Pinheirinho, que participou, nesta quinta-feira (23), da audiência no Senado que debateu a violência na desocupação da área. A audiência foi marcada por bate-boca e acusações por parte do senador tucano Aloysio Nunes (SP).
David disse que os exames comprovaram que a bala que o atingiu era de metal, e não de borracha.
Os policiais chegaram lá com intenção de "exterminar, escorraçar, massacrar". Foi assim que a ex-moradora da área, Maria Laura da Silva de Souza, relatou os acontecimentos enfrentados pelos habitantes da localidade no município de São José dos Campos, em São Paulo, no dia da desocupação por determinação judicial.
Valdir Martins de Souza, líder
comunitário de Pinheirinho, também foi vítima do senador Aloísio Nunes.
Logo no início da audiência, ele o chamou de “parasita”. O líder
comunitário disse que não era "parasita", que trabalhava há 37 anos e
que ainda não havia se aposentado porque a empresa não recolhia o Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e nem as contribuições ao INSS.
Nesses casos – ironizou - a Justiça não os obriga a pagar.
O senador confirmou que havia usado o
termo em relação ao depoente e pediu desculpas, após ler um texto que
Valdir preparou especialmente para ele, falando de sua vida e visão
política.
Sem finalidade
Valdir Souza disse que o terreno,
ocupado pela comunidade em 2004, nunca cumpriu finalidade social. E que o
especulador financeiro Naji Nahas (o suposto dono do terreno) passou 40
anos sem pagar imposto e ninguém fez nada.
“Ocupamos e dividimos a terra. 250
metros quadrados para cada um, porque acreditamos que as casas têm que
ter tamanho adequado, porque os ricos tem casa tão grande que o pai nem
vê o filho e nós temos que viver em uma casa que o filho precisa estudar
no mesmo cômodo que a mãe cozinha?”, indagou, explicando que as casas
eram de bom padrão e foram todas destruídas para que o terreno fosse
devolvido ao especulador. E fez nova indagação: “Queria saber se as
casas fossem de ricos, eles destruiriam?”
O líder comunitário contou que em todo
esse tempo de ocupação – oito anos – nunca foi registrado um assassinato
na comunidade. “Fizemos festa sem precisar da polícia porque nunca
houve um crime”. E disse ainda que “a ganância pela terra é para mostrar
que pobre não pode reclamar, se organizar, tem que ficar quietinho”.
Valdir Sousa disse ainda aos senadores
que “quem faz as casas para pobres são os empresários da construção
civil, mas a gente não precisa porque o trabalhador sabe fazer casa, e
casas baratas. O que eles querem é fazer casa superfaturada”, acusou.
“O que foi feito foi uma covardia,
aquilo não foi desocupação, foi um estupro social. O poder do Estado
mostrando que pobre não tem vez em São Paulo”, afirmou, destacando que o
governo do estado quer que os pobres recebam as casa do jeito que ele
(Estado) quer, sem direito a opinar.
Violência comprovada
Maria Laura e o marido, David Washington
Castor Furtado, que também participaram da audiência, confirmaram as
palavras do líder comunitário. Ela contou que, ao tentar protegê-la, o
marido foi atingido por um tiro e ficou hospitalizado 17 dias e ainda
está realizando exames para complementar o diagnóstico. David foi
alvejado por um integrante da guarda municipal.
Ela disse que eles seguiam em direção a
um posto de cadastramento da Prefeitura Municipal, depois de serem
impedidos de retornar à casa onde viviam para tentar recuperar seus
pertences. “Era para mim aquela bala. Vi quando o guarda apontou na
minha direção. Saí correndo e gritando. Quando olhei para trás, meu
marido já estava atingido”, contou Maria Laura.
David disse que os exames comprovaram
que a bala que o atingiu era de metal, e não de borracha. Como
resultado, disse que ainda apresenta sequelas, com comprometimento da
"raiz do nervo da perna esquerda". “Não desejo para ninguém o que vivi:
primeiro, perder a casa; segundo, levar um tiro e correr o risco de
ficar tetraplégico”, afirmou.
Bate-boca e discussões
Logo na abertura da audiência pública,
promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH), Aloysio Nunes e
Eduardo Suplicy (PT-SP) tiveram uma discussão sobre o propósito do
debate. Nunes queria que a audiência incluísse outras desocupações
também com denúncias de abuso da Polícia Militar, para evitar as
críticas que foram concentradas no governo do tucano Geraldo Alckmin.
“Estamos diante de uma operação política
visando atacar politicamente o governo de São Paulo”, protestou o
senador tucano. E anunciou que a Casa Civil do Estado de São Paulo
enviou ofício ao presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS),
comunicando que o governo de São Paulo não participaria do debate.
Suplicy explicou que a audiência havia
sido convocada para discutir apenas a questão de Pinheirinho, o que
incluiu convite a secretários do governo de São Paulo, juízes envolvidos
na decisão de desocupação e representante da força policial do estado.
“O senador Aloysio Nunes precisa
primeiro ouvir (os relatos sobre) o que ele acha que não ocorreu. Estão
aqui os exames médicos, os vídeos das pessoas e das cenas ocorridas, em
que ele diz que não houve violência”, respondeu Suplicy, citando as
pessoas presentes à reunião e que foram agredidas por policiais durante a
reintegração de posse.
Fonte: Vermelho com Agência Senado |
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Senador tucano gera bate-boca na discussão sobre Pinheirinho
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