terça-feira, 25 de setembro de 2012

Nando Reis lança novo disco: Sei, o primeiro independente


Depois de quase uma década e cinco discos, no segundo semestre de 2011 a gravadora Universal informou a Nando Reis que seu contrato não seria renovado. Após 28 anos ligado às majors (o primeiro contrato, com os Titãs, foi assinado em 1984), o ruivo, hoje com 49 anos, viu-se um pouco sem chão. Frustrado com a mecânica das gravadoras, o músico seguiu em frente e lança hoje (24) o primeiro disco independente da carreira: Sei, repleto de participações epeciais e gravado em Seatle, nos EUA.




"É claro que fiquei frustrado", admite ele. "Se meus discos não vendiam bem, será que é só por culpa minha? Eu faço música, e acho que faço bem; quem vende discos é a gravadora."

Enquanto seguia na estrada com o Bailão do ruivão — disco de regravações como Whisky a-go-go, do Roupa Nova, Muito estranho, de Dalto, e Gostava tanto de você, de Tim Maia, lançado em 2010 —, Nando pensava em seu próximo passo.

"Passei os anos de 2009 e 2010 sem nenhuma inspiração para compor", admite. "Foi ótimo fazer um projeto como o Bailão, que eu acalentava há muito tempo, mas realmente não estava saindo nada. Aí, de repente, a torneira abriu, e as canções começaram a sair. Tive algumas propostas de gravadoras, mas resolvi fazer tudo por conta própria. Há várias coisas que não entendo na mecânica das companhias, como a margem de lucro, com discos a R$ 30, que um ano depois custam R$ 5. E ainda me propuseram o tal contrato de 360 graus, segundo o qual eles também passam a ganhar dinheiro com o meu show... Deixei pra lá".

O projeto de um disco com Samuel Rosa, cantor do Skank, foi adiado, e Nando teve a ideia de se unir novamente a um velho colaborador: o produtor americano Jack Endino, que tem no currículo praticamente todos os grandes nomes do grunge, como Nirvana, Soundgarden e Mudhoney, como engenheiro de gravação, e que produziu os Titãs em seu passeio por aquele tipo de som, o furiosoTitanomaquia, de 1993.

"Eu sempre gostei de sair de São Paulo para gravar", conta ele. "Lá, não consigo me desligar, mergulhar na música, nos ensaios, no processo de gravação. Gravar um disco é como ir para Plutão. E queria muito levar os meninos da banda a Seattle, o Diogo (Gameiro, baterista) e o Cambraia (Felipe, baixista). Pensei no Jack também porque os meus últimos discos foram produzidos pelo Carlos Pontual, que era meu guitarrista, e não está mais na banda. Trabalhar com Jack é uma maravilha: ele faz tudo sozinho, liga os cabos, afina os instrumentos... Sei foi o meu sexto disco produzido por ele, e gravar é a coisa que mais gosto de fazer.

Banda começou nos EUA, há 12 anos

O tecladista Alex Veley e o guitarrista Walter Villaça já estavam na banda quando Nando gravou Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro, lá mesmo em Seattle, em 2000. O americano Alex já estava na mira de Nando (a banda que depois se chamaria Os Infernais começou a nascer ali, e o tecladista é parte dela desde então), e o baterista Barrett Martin, ex-Screaming Trees, foi sugestão de Endino:

"Por essas e outras eu achava que tinha que levar o Diogo para lá, e ele realmente chapou naquele ambiente roqueiro."

Ah, então, como o dinheiro dá em árvores, Nando levou quatro marmanjos para um mês de gravações em Seattle.

"É claro que tive que fazer contas", lembra ele. "Estou muito no vermelho, mas não posso me importar tanto com isso. E existem vários atenuantes: gravar um disco nos EUA é mais barato do que no Brasil; o Jack não é um produtor caro... E nós alugamos uma casa, o que é obviamente mais barato do que um hotel no Rio."

Já que a espada estava erguida à beira do Rio Ipiranga, Nando decidiu proclamar sua independência também na distribuição.

"O disco só esta à venda pelo meu site, nandoreis.uol.com.br, a partir desta segunda (24)", anuncia. "Quem quiser pode ir lá ouvir todas as músicas e sugerir um preço. O disco será vendido pela média de valores sugeridos."

Novo álbum
: Sei

A impressão que se tem ao ouvir Sei é a de que Nando Reis viajou cerca de 10 mil km e encontrou José Fernando Gomes dos Reis: estão no disco elementos como a homenagem à mulher (Back in Vânia e Praça da Árvore, para a mãe de quatro de seus cinco filhos, com quem ele se casou pela quarta vez. “Minha certidão de casamento parece um B.O.”, diz), o rock anos 1970 e até o reggae.

"Comprei um DVD, acho que pirata, em que Bob Marley e os Wailers ensaiavam em 1973, e pirei. Isso acabou em Lamento Realengo, que é meio samba, meio reggae. Gravei até com um violão de nylon, não tocava um há 15 anos!."

Sem demonstrar preocupação com a dívida — “se não voltar em dinheiro, volta de outra forma” —, ele sorri para o futuro.

"Nesta segunda o disco sai, o Multishow começa a passar um especial sobre as gravações, e eu e a banda vamos para o estúdio ensaiar, contabiliza. "Pode ser melhor? Ainda participo do show de 30 anos dos Titãs, dia 6 de outubro, em São Paulo. Estou até namorando o baixo...".

Escute o novo álbum Sei aqui.

Fonte: O Globo

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