quarta-feira, 29 de agosto de 2012

29 de agosto: Dia da Visibilidade Lésbica



Qualquer maneira de amor vale a pena,
Qualquer maneira de amor valerá”
Milton Nascimento

Dia de construção de alternativas, onde a vida das mulheres lésbicas não seja silenciada, estigmatizada



Em nossa sociedade, historicamente, o patriarcado tem se configurado como um sistema opressor, manifestando-se em práticas de machismo, lesbofobia, homofobia e sexismo. Baseado na lógica de subordinação das mulheres, este sistema prescreve normas e comportamentos a serem desempenhados por homens e mulheres, estabelecendo privilégios aos homens e conformando uma estrutura de subalternidade do comportamento feminino.
Neste sistema, as mulheres também são relegadas aos espaços privados, responsáveis pela reprodução da vida, exercendo suas funções na órbita do trabalho invisível, não pago, conhecido como o trabalho doméstico. Os homens se apropriam das tarefas ligadas aos espaços públicos, provedores da riqueza material. O patriarcado também se articula a partir da padronização da sexualidade. Necessita de forjar um comportamento sexual dominante, neste caso abarca em sua lógica a heteronormatividade, que nega toda a construção da diversidade sexual como um componente e expressão da diversidade humana.
Na sociedade capitalista, essas formas de opressão são incorporadas, bem como são funcionais à reprodução deste sistema. Imaginem as mulheres sendo remuneradas pelo trabalho invisível doméstico. Imaginem homens e mulheres vivenciando condições de igualdade no mercado de trabalho. Imaginem gays e lésbicas vivenciando plena liberdade de orientação sexual, sem precisarem recorrem aos guetos do mercado. Imaginem um mundo onde as mulheres não são mercadorias.
Deste modo, pressupõe-se a necessidade de reconhecer que o capitalismo, ao se apropriar do patriarcado, deve ser caracterizado como um sistema capitalista-patriarcal intrinsecamente articulado. A luta contra o patriarcado também tem que se configurar como a luta contra o próprio modo de produção capitalista. Nessas condições, são legitimadas as diferenças e desigualdades entre homens e mulheres. É neste sistema que as mulheres lésbicas são impossibilitadas de exercerem suas potencialidades, bem como são ignoradas por nossa democracia moderna, alicerçada na construção dos direitos sociais, civis e políticos. Essas formas de opressão são ainda mais exacerbadas quando manifestadas em situações na vida das mulheres negras e pobres.
São exploradas e oprimidas pela desigualdade de gênero, de orientação sexual e identidade sexual e de gênero. São invisíveis na constituição da família, no acesso à saúde pública especializada e na previdência social. São rotuladas e estigmatizadas pelo preconceito que se expressa na lesbofobia e no machismo, sendo caracterizadas como “sapatão”. São vítimas no cotidiano do estupro “corretivo”, agressões físicas e psicológicas.
De acordo com “o Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas – Promoção da Equidade e da Integralidade (2006), publicado pela Rede Feminista de Saúde, dados evidenciam as desigualdades de acesso aos serviços de saúde pelas lésbicas e mulheres bissexuais. Com relação às mulheres que procuram atendimento de saúde, cerca de 40% não revelam sua orientação sexual. Entre as mulheres que revelaram, 28% referem maior rapidez do atendimento do médico e 17% afirmam que estes deixaram de solicitar exames considerados por elas como necessários. Com relação ao exame preventivo de câncer cérvico uterino (Papanicolau), o referido dossiê cita dados da pesquisa realizada em 2002 pela Coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde que demonstram que entre as mulheres heterossexuais a cobertura na realização deste exame nos últimos três anos é de 89,7%. Já entre as lésbicas e mulheres bissexuais a cobertura cai para 66,7%, mesmo entre pessoas com maior escolaridade e renda.
Em outra pesquisa realizada com mulheres que participaram da 9° Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, apenas 52% responderam que frequentam pelo menos uma vez por ano o ginecologista. No que diz respeito à violência, 32% das mulheres lésbicas já sofreram discriminação de seus vizinhos e amigos, 22% por colegas e professores da escola ou faculdade e 30% por seus familiares. 51% afirmaram que já passaram por situações de agressão verbal.
Por isso, desde a década de 1990 as mulheres brasileiras reconhecem o dia 29 de agosto como o Dia Nacional de Luta pela Visibilidade Lésbica. Dia de construção de alternativas onde a vida das mulheres lésbicas não seja silenciada, estigmatizada. Dia de “mudar o mundo para mudar a vida das mulheres e mudar a vida das mulheres para mudar o mundo”.
“O amor exige expressão e reverência coletiva! Pelo fim da Invisibilidade Lésbica”.

Por Leonardo Nogueira é do Coletivo de Diversidade Sexual do Levante Popular da Juventude Teófilo Otoni (MG).

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