O que é uma “lua azul”? É um belo olho azul no meio do céu estrelado? Um astro triste? Elvis Presley cantou a “lua azul” para todos os corações solitários: "Blue moon, you saw me standing alone, without a dream in my heart, without a love of my own." Na língua inglesa também se usa o termo como expressão para um acontecimento muito raro: "Once in a blue moon." Mas esta sexta-feira vai haver outro tipo de “lua azul”: uma Lua Cheia pela segunda vez no mês.
Por vezes, a Lua fica mesmo azulada, explica a NASA. Durante a explosão do Krakatoa, em 1883, a Lua ficou desta cor por causa das cinzas lançada pelo vulcão da Indonésia. As partículas eram tão grandes que desviavam as ondas luminosas que dão a cor do vermelho, e o efeito funcionou como um grande filtro azul que mudou a cor da Lua.
A NASA explica que nesta sexta-feira a “lua azul” poderá mesmo mudar de cor. “Neste mês seco e quente, tem havido bastantes incêndios florestais nos Estados Unidos. Se algum deles produzir uma dose extra de partículas com um micrómetro de tamanho, a Lua Cheia pode realmente tornar-se azul”, explica a agência espacial norte-americana.
O ciclo lunar é de 29 dias e meio, está fora do compasso das 12 divisões mensais do ano. Por isso, muito raramente, calha haver duas Luas Cheias num único mês. A primeira ocorreu a 2 de Agosto, a próxima é esta sexta-feira, mas só se vai ver depois de a Lua nascer, por volta das 19h47.
Desde 2000, só houve sete “luas azuis”, a última foi em Dezembro de 2009 e, depois desta sexta-feira, a próxima será em Julho de 2015.
Mas qual é a origem desta designação? “O termo ‘lua azul’ já anda por aí há muito tempo, há bem mais do que 400 anos, mas o seu significado associado a um fenómeno de calendário só se espalhou nos últimos 25 anos”, explica Philip Hiscock na revista norte-americana Sky & Telescope. Hiscock, especialista em cultura popular e lendas, trabalha na Universidade da Terra Nova, no Canadá, e foi à procura da origem deste novo significado.
No século XVI, conta o especialista, quando alguém dizia um disparate afirmava-se que tinha dito que a Lua era azul, já que, obviamente, não é. Mais tarde, depois de se ter realmente observado Luas azuis durante a erupção do Krakatoa, esta expressão passou a estar associada a acontecimentos muito raros. No século XIX, a expressão once in a blue moon, que pode ser traduzida como “quando a Lua for azul...”, já tinha o significado de hoje de um fenómeno muito raro.
Hiscock associa ainda o termo blue moon a uma bebida alcoólica e ao sentimento de nostalgia, tristeza e solidão eternizado por Elvis Presley (e outros), na canção Blue moon.
Em 1988, quando houve “luas azuis” em dois meses diferentes e depois em 1990, quando o fenómeno astronómico voltou acontecer, começou-se a ouvir essa designação para as duas Luas Cheias num único mês. Mas para Hiscock, a “lua azul” “parecia ser cultura popular actual mascarada como algo antigo”.
A origem do erro
Como é que surgiu este termo na década de 1980, como se fosse uma tradição antiga? Deveu-se a um erro de interpretação da própria Sky & Telescope.
O termo “lua azul” apareceu pela primeira vez no famoso almanaque anual norte-americanoMaine Farmers Almanac, editado desde 1818, que tem várias informações para os agricultores sobre meteorologia, calendário, entre outras. Estava também associado ao calendário e a um fenómeno astronómico, mas com um significado completamente diferente do de hoje. Entre um Solstício de Inverno e o do ano seguinte, há normalmente três Luas Cheias por estação e 12 ao final do ano. Mas, de vez em quando, pode haver 13 Luas Cheias, por isso uma das estações tem de quatro Luas Cheias. Era à terceira Lua Cheia dessa estação que o Almanaque chamava “lua azul”.
Só que numa edição de 1946 da Sky & Telescope houve uma interpretação errada do conceito usado no almanaque: considerou-se que, num ano com 13 Luas Cheias, tinha de haver um mês com duas Luas Cheias. E essa Lua Cheia a mais é que era, erradamente, a “lua azul”.
Fonte: http://www.publico.pt
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