quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Uma visão marxista


Tentaremos de forma sucinta e objetiva estabelecer a imbricação entre financeirização e a doutrina neoliberal de gestão macroeconômico-microeconômica, fundada numa espécie de sistema de hegemonia da “pequena política”, como Carlos Nelson Coutinho coloca, usando a concepção de Antonio Gramsci. Talvez, tal pretensão ou ousadia, possa defrontar-se com obstáculos e limitações não só impostas pela realidade fenomênica como as do autor deste artigo.

"O neoliberalismo enquanto doutrina econômica do capitalismo, se apresentou ao mundo globalizado como uma coletânea de práticas e concepções políticas e econômicas extremamente conservadoras"

O neoliberalismo enquanto doutrina econômica do capitalismo, se apresentou ao mundo globalizado como uma coletânea de práticas e concepções políticas e econômicas extremamente conservadoras - uma reação retrógrada do ordenamento econômico e político do capital frente às inúmeras intempéries (recessões/perturbações/crises) que já vinham sendo disseminadas após os 20 anos de ouro do capitalismo – 1950/1970. Trata-se de uma espécie de confraternização do capitalismo de catástrofe com sua barbárie “construtivista”.
Desde sua concepção e implementação, o neoliberalismo surge conectado a uma reforma claramente utilitarista, gerencialista, apoiada numa prática de desmantelamento de conquistas econômicas, políticas e sociais dos trabalhadores, como também na supremacia das finanças, do pleno e absoluto reinado do mercado, do Estado mínimo, de uma ampla abertura das economias nacionais, da desregulamentação total do capital financeiro, da especulação desenfreada, entre outras.
Reformismo
O desmantelamento ou esgotamento do Welfare State e da Social Democracia aparece acompanhado de todo um arsenal de reformismo conservador. Estamos vivendo o que Gramsci considerava uma revolução passiva. Na época neoliberal não há espaço para os direitos sociais, ainda que limitados. “As reformas têm por objetivo a pura e simples restauração própria de um capitalismo ‘selvagem’, no qual deve vigorar sem freios as leis do mercado”, nas palavras de Nelson Coutinho.
Reforma e Revolução
A concepção neoliberal pode ser entendida, também, considerando as premissas de Gramsci, quando este estabelece uma ligação entre “reforma” e revolução passiva. Estas duas concepções estão claramente interligadas ao que Coutinho denomina de “época neoliberal”, ou seja, uma dialética de restauração - revolução que é característica das revoluções passivas.

"Gramsci conceitua de revolução passiva a presença de dois momentos: o da restauração (trata-se sempre de uma reação conservadora à possibilidade de uma transformação efetiva) e o da “renovação” (no qual algumas demandas populares são satisfeitas ‘pelo alto’, através de concessões)"

Gramsci conceitua de revolução passiva a presença de dois momentos: o da restauração (trata-se sempre de uma reação conservadora à possibilidade de uma transformação efetiva e radical proveniente de baixo) e o da “renovação” (no qual algumas demandas populares são satisfeitas ‘pelo alto’, através de concessões das camadas dominantes). Coutinho sinaliza: “A revolução passiva, portanto, não é sinônimo de contra-revolução e nem mesmo de contra-reforma: na verdade, numa revolução passiva estamos diante de um reformismo ‘pelo alto’.”
Pequena Política
O ponto de vista gramsciano estabelece uma conexão entre um reformismo conservador aliado ao que ele chama de pequena política (“compreende questões parciais e cotidianas - política do dia a dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas”), com a supressão da grande política que tem um significado de compreender as questões ligadas à fundação de novos estados; a luta pela destruição, pela defesa e pela conservação de determinadas estruturas econômico-sociais.
Dessa forma a versão neoliberal, utilizando uma perspectiva gramsciana, representa aquilo que Karl Marx chamou de supressão radical de “vitórias da economia política do trabalho” e, Coutinho acrescenta: “restauração plena da economia política do capital.”

Por Ari de Oliveira Zenha
Fonte: Caros amigos

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