segunda-feira, 30 de julho de 2012

Andando para trás com Duciomar


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A capital paraense podia começar a preparar a comemoração dos seus 400 anos, em 2016, com uma visão maior e mais profunda do que a de hoje. Do contrário, vai continuar a acumular problemas e índices negativos. Sem motivo para festa.

Poucas cidades brasileiras estão na faixa histórica dos 400 anos. Belém chegará lá dentro de quatro anos. No último ano do seu mandato, esgotado o recurso da reeleição, que já utilizou, o prefeito Duciomar Costa, do PTB, podia ter aproveitado para abrir com estilo a contagem regressiva para o quarto centenário da cidade mais populosa do mundo na linha dos Trópicos. Ou se já não mais, rigorosamente, pelo menos a que tem mais habitantes, a mais importante.
Fiel a um estilo mantido durante os sete anos da sua gestão, Duciomar deu a largada para a renovação do comando da capital paraense com o uso de duas características marcantes do seu governo: escândalo e fato consumado.
O escândalo foi criado em torno da concorrência pública internacional - com evidentes sinais de vício - para a instalação do ônibus de trânsito rápido (BRT, segundo a sigla em inglês) em Belém. Apesar das críticas e denúncias que a iniciativa provocou, ele assinou a ordem de serviço para um negócio de 430 milhões de reais e ignorou o questionamento judicial. Mesmo porque o poder judiciário estadual tem sido o fator fundamental para o sucesso dos fatos consumados do alcaide belenense.
O transporte coletivo é um dos tormentos da rotina diária de 600 mil pessoas, sobretudo da população mais pobre. Não há racionalidade na prestação do serviço, o desrespeito ao cidadão é constante, a lentidão é tão frequente quanto a impossibilidade de prever o tempo de duração de uma viagem, por uma série de circunstâncias. A viagem dentro desses bólidos virou uma forma de tortura sob o sol inclemente ou a chuva penetrante.
Aproveitando-se do crédito fácil (e caro), quem pode troca o ônibus pelo carro. A inchada frota de veículos individuais de transporte ameaça levar o tráfego ao colapso total, além de ocupar ruas e calçadas como estacionamento púbico. Os congestionamentos se amiúdam, mas, sem saída melhor, as pessoas preferem o stress do trânsito caótico à ordenação em benefício do interesse coletivo.
Oferecer transporte público de massa decente e eficaz é prioridade máxima para desviar a cidade do seu padrão cotidiano de selvageria e repô-la no patamar da civilidade. O BTR se revelou uma dessas alternativas certas para várias cidades brasileiras. Mas não sujeito a uma contratação duvidosa, que expôs as marcas de uma licitação de cartas marcadas. E muito menos sem entrosamento com os demais poderes públicos e com os vizinhos de região metropolitana para reduzir os custos e ampliar os benefícios.
Em síntese, esses ônibus, com maior capacidade (para 250 passageiros) do que os veículos comuns, circulam em maior velocidade, em faixa própria, absorvendo fluxos do transporte normal em estações centrais. O projeto do BRT da prefeitura provocará problemas operacionais que comprometerão sua eficácia.
O maior estará na conexão a partir de São Braz, ponto final do BRT, na direção do centro da cidade, onde a estrutura viária não receberá melhorias e adaptações. Esse prolongamento, que constava do projeto do Estado, não faz parte da concepção do município. Por desconhecimento dos detalhes do projeto, é difícil até discutir a aplicação à capital paraense do modelo adotado, com êxito, em outras cidades.
Como aconteceu no projeto do Portal da Amazônia, que se limitava a uma maquete digital, a concorrência foi decidida sem a existência de um projeto técnico, apenas com uma concepção geral. O projeto técnico será feito só a partir de agora pela vencedora da concorrência, a Construtora Andrade Gutierrez, a mesma que está à frente do Portal (e que brindou Belém contratando um espetáculo da cantora baiana Ivete Sangalo por um milhão de reais).
Como sempre, o prefeito preferiu atropelar as instâncias e ignorar as condicionantes desse tipo de transporte para ser o dono único da iniciativa, a cosumando conforme seus interesses pessoais e políticos. Em nota oficial, negou que a licitação tenha sido direcionada para favorecer a Andrade Gutierrez, usando argumentos que podem também ser usados em sentido contrário.
(...)

Leia a matéria completa: Jornal Pessoal

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