quarta-feira, 18 de julho de 2012

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Corpos das 10 vítimas fatais do acidente foram identificados e levados para Curitiba, mas 15 feridos continuam internados no Paraná (Foto: Reprodução/ Diário do Pará)
FAB traslada os corpos hoje para Belém (Foto: Reprodução/ Diário do Pará)Os corpos das 10 vítimas fatais do acidente devem chegar no início da tarde de hoje a Belém. Eles serão transportados por uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), da Base Aérea Nacional da Aeronáutica. Mais seis familiares das vítimas irão ao Paraná acompanhar os estudantes hospitalizados que têm probabilidade de não regressar logo por causa do estado grave em que se encontram. Na tarde de terça-feira (17), três parentes embarcaram em um voo direto para Curitiba. Segundo a empresa Fantasy Turismo, das 18 vítimas que estavam hospitalizadas, quatro foram liberadas. E todas serão trazidos de volta a Belém pela agência.
Laércio Silva, sociólogo, é irmão do estudante José Correia da Silva Jr, do curso de Ciência da Computação da UFPA, e embarcou ontem para encontrar o irmão. “Ele quebrou um braço e teve um ferimento no rosto, pelo que vi nas filmagens. Eu já falei com ele e se mostrou tranquilo”, revela. José Jr. está aguardando transferência para o hospital de Ponta Grossa. Ele conta ainda que sentiu alguma resistência da empresa no apoio aos familiares. “A princípio, eles disseram que dariam tudo, mas na nossa viagem não queriam pagar a hospedagem. Mas eu sei dos direitos que temos e vou aguardar o apoio deles”, afirma.
O filho de Alfredo Garcia, jornalista, vai fazer uma cirurgia por conta de uma lesão na região lombar. O estudante de 19 anos, Frederick Garcia, já entrou em contato com a família para tranquilizá-los. “Falei com ele rápido, antes de ele ir fazer uma tomografia. Mas não tem boletim médico que substitua eu olhar para ele. Não sei qual vai ser minha reação quando chegar lá, mas preciso acompanha-lo”, garante.
Segundo informações da Fantasy Turismo, a maioria dos estudantes que estava no comboio para o Congresso resolveu voltar para Belém. “Cerca de 90% dos 156 estudantes que estavam viajando querem adiantar a data de retorno e a empresa vai trazê-los”, garante Alexandro Rocha, sócio da agência de turismo.
Um velório coletivo foi sugerido aos familiares, segundo a psicóloga Rivonilda Graim, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Ophir Loyola. “Estamos dando o apoio psicológico aos familiares e aos estudantes que voltarem, junto com a Cruz Vermelha. O velório coletivo foi sugerido, mas os próprios familiares decidiram por fazer cada um o seu”, conta.
Viagem era um grande sonho
Para conseguir arcar com os custos da viagem que o levaria para o XXXII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), realizado em Curitiba desde a última segunda-feira, o estudante de licenciatura em computação da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) Sivaldo Miranda do Nascimento Júnior passava seus dias trabalhando em uma pequena venda da família na Feira do Guamá. Cada centavo conquistado pelo trabalho árduo era guardado para pagar a viagem que tanto ansiava e que acabou por ocasionar sua morte no acidente que envolveu um ônibus de turismo que saiu de Belém rumo ao Paraná, que tombou na altura do quilômetro 155 da PR- 090 na manhã da última segunda-feira.
Ainda muito abalado com a perda do filho de apenas 22 anos, Sivaldo Miranda do Nascimento não esquecia da felicidade do filho ao embarcar para a viagem. Em frente à sede da empresa Fantasy Turismo - responsável pela excursão e proprietária do ônibus -, para onde levou a documentação necessária para a liberação do corpo de seu filho no Paraná, ele demonstrava ainda não acreditar no que havia acontecido. “Ele tava muito ansioso para essa viagem. Ele dizia pra mim: ‘Pai, isso é muito importante para mim. Lá eu vou ganhar um diploma que vai me ajudar a conseguir um estágio. Não quero mais trabalhar na feira’”, lembrava emocionado. “Estou com muita saudade do meu filho, muita saudade. Eu tinha muito orgulho dele, era um que nunca deu para nada errado. Ele só queria estudar”.
Após a confirmação de que uma das dez vítimas fatais do acidente era seu filho e da assinatura da procuração que possibilitará que o corpo de Sivaldo Júnior seja trasladado do Paraná a Belém, o pai se lembrava a todo momento dos minutos que antecederam a viagem do filho. “Ele só falava dessa viagem. Até aqui, na hora em que o ônibus saiu, ele foi trocar de cadeira”, lembra. “Ele tava na cadeira 5 e o amigo dele na cadeira 35. Como ele queria sentar junto com o amigo dele, trocou de cadeira e foi pro fundo. Morreram os dois”.
Além de Sivaldo Miranda, outros pais e parentes de vítimas se dirigiram até a sede da Fantasy Turismo na manhã de ontem para dar prosseguimento aos documentos que precisam ser enviados para o representante da empresa que se encontra em Curitiba, o diretor executivo Alexandre Rocha, que ficará responsável por liberar os corpos que, segundo a empresa, foram reconhecidos a partir dos documentos com fotos dos passageiros que a empresa mantinha.
De acordo com o representante da empresa que está em Belém, Alexandro Costa, a expectativa é de que o traslado dos corpos aconteça ainda hoje. “O momento, agora, é de encaminhar a documentação para a liberação mais rápida possível dos corpos”, disse, ao informar que, até o final da manhã, 15 pessoas que estavam no ônibus acidentado ainda estavam internadas em hospitais de três municípios do Estado do Paraná. “Os feridos estão recebendo atendimento e estão muito bem assistidos. Já os que estão ainda em estado grave e que ainda precisarão ficar no hospital, a empresa vai custear a viagem e a hospedagem de um parente para acompanhá-los”.
Segundo Alexandro, a definição dos parentes que viajariam para Curitiba para acompanhar as vítimas que estão internadas em estado grave ainda dependeria da divulgação dos boletins médicos de cada um. “Tem uma pessoa da empresa passando em cada hospital para pegar os boletins médicos de todos para identificar os que ainda estão em estado grave”. Até a manhã de ontem, oito ainda estavam nessa situação.
Versão sobre o acidente é dúvida
Um tecnólogo da computação que estava num dos ônibus logo atrás do que se acidentou disse ontem que “não ficou bem claro como ocorreu o acidente”, cujas causas ele questiona. Ele vinha num ônibus atrás e não viu o acidente, mas chegou ao local em menos de meia hora e as marcas de pneus no asfalto lhe deram a “impressão de que o motorista do ônibus perdeu a curva, freou e passou direto.” Ele também disse que “ninguém viu o caminhão que teria trombado com o ônibus. Eu não vi e ninguém com quem conversei viu esse caminhão”. Segundo ele, mesmo que estivesse fazendo uma ultrapassagem, o caminhão teria espaço o bastante, já que havia duas faixas no sentido que ele vinha e uma para o ônibus. Ele disse, entretanto, que havia um caminhão baú pequeno com um amassado e a porta traseira aberta no local da tragédia e que o motorista somente fechou a porta e foi embora, mas ele acredita que eram somente curiosos. O tecnólogo também disse que “eles (empresa) não estavam preparados para esse tipo de coisa”, criticando o fato, segundo ele, de somente o dono da empresa, uma assistente e um cunhado dele comporem a equipe da empresa na viagem.
Passageiros dos dois ônibus que não sofreram acidente, segundo esse técnico, queriam também voltar de avião para casa, a exemplo dos que estavam no ônibus acidentado, porque estariam com medo de viajar de ônibus, mas o dono da empresa, Alexandre Rocha, teria negado o pedido, feito durante uma reunião na manhã de ontem, no hotel Promenade, onde uma parte ficou hospedada. “Estamos sem nenhuma assistência por parte da empresa, nem psicológica”, afirmou, argumentando que todos ficaram traumatizados e já queriam voltar para casa. Ele também acusou o motorista do ônibus em que ele ia de ter sido imprudente e feito várias ultrapassagens em locais proibidos.
O advogado da empresa Fantasy, Alexandre Vasquez, rebateu as críticas do passageiro. “Não tem quem diga, sem conhecimento técnico, que a culpa é de alguém. Os indícios só a perícia é que vai interpretar e a empresa confia na competência das autoridades do Paraná”, contra-argumentou o advogado. Segundo ele, “independente da responsabilidade de “a” ou “b”, toda assistência psicológica, moral e material a empresa está dando às famílias e às vítimas. Ele disse também que o caminhoneiro já foi até ouvido pela polícia paranaense. Vasquez disse também que a empresa priorizou o atendimento dos feridos, tanto que já enviou ontem quatro familiares e mais três seguem hoje para Curitiba. “Não é uma questão de abandono, mas uma questão de prioridade.
A empresa, segundo o advogado, também se comprometeu em arcar com todas as despesas de enterro e está comprando até jazigos para as vítimas que não possuem tumbas. A equipe da empresa, segundo o advogado, é composta, em cada ônibus, por dois motoristas e um guia de turismo que é responsável pelos passageiros. A equipe, portanto, era formada por seis motoristas, três guias e mais o dono da empresa e uma assistente.
Lembranças emocionam os familiares
Com o filho já liberado do hospital onde ficou internado após bater a cabeça no acidente, a aposentada Nazaré dos Reis Lima foi até a sede da empresa, em Belém, para saber quando o filho retornaria. Ainda abalada com a notícia que lhe foi informada pelo próprio filho, ela lamentava pela dor dos pais que, diferente dela, perderam seus filhos no acidente. “Falei com ele na hora que aconteceu o acidente. Ele é aluno de ciência da computação da UFPA (Universidade Federal do Pará). Ele me ligou e disse: ‘Mamãe, a senhora está bem? É que aconteceu um acidente com o ônibus, mas eu só bati a cabeça, estou tonto”, lembra.
Segundo ela, o contato só foi possível porque o filho, João Luiz dos Reis Lima, de 28 anos, conseguiu guardar seu celular logo após o acidente, coisa que nem todos os sobreviventes conseguiram fazer. “Ele já tinha ido nessa excursão no ano passado e nesse ano ele disse para mim antes de ir: ‘Mãe, não sei o que tenho que não estou com vontade de ir nessa viagem’. Eu disse para ele: ‘Mas você já pagou, meu filho. Vai!”.
No local para levar os documentos pessoais dos pais da estudante de ciência da computação da UFPA Ariane Sinimbu, de 25 anos, a analista judiciária Georgina Pereira também lembrava dos momentos que antecederam a viagem da sobrinha, que acabou falecendo no acidente. Segundo ela, que acompanhava os trâmites da liberação do corpo, já que os pais da jovem não estavam em condições emocionais para tal, essa foi a primeira viagem de Ariane sozinha. “Ela sempre viajou com os pais ou com a irmã mais velha. Essa era a primeira viagem que ela fazia só e ela estava muito feliz, muito alegre”, emocionava-se. “Foi uma notícia devastadora. Vou guardar uma lembrança dela de uma pessoa muito doce, incomum, feliz”.
Para ajudar no traslado dos corpos para Belém, o governador do Estado do Pará, Simão Jatene, informou que entrou em contato com a Aeronáutica do Brasil para que cedesse um avião. “Assim que soubemos do acidente, entramos em contato com o Governo do Paraná e pedimos que dessem uma força para as vítimas e sobreviventes que ainda estão lá”, disse. “Já falamos com um general da Aeronáutica, em Brasília, para verificar a possibilidade de uma aeronave da Aeronáutica fazer o traslado dos corpos. Mas tudo o que se faça não tem como diminuir a dor das pessoas”.
Segundo o governador, o maior desafio no momento ainda é a identificação oficial dos corpos. “A polícia do Pará já está encaminhando fotos e impressões digitais para a polícia do Paraná para tentar identificar os corpos”, disse. “Uma equipe da Defesa Civil do Estado também já foi para lá para dar apoio, mas não tenho dúvidas de que o Governo do Paraná está dando todo o apoio”.
Fonte:Diário do Pará

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