sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bola fora de Guido Mantega sobre a Educação no país é mal recebida por todos os lados


Bola fora de Guido Mantega sobre a Educação no país é mal recebida por todos os lados; UNE, CNTE e Campanha Nacional pelo Direito à Educação reagem
Certamente não é fácil ser ministro da Fazenda. Ainda mais em um país como o Brasil de 2012, a sexta economia do planeta, em meio a uma grave crise econômica internacional que coloca em cheque o modelo financeiro e social imposto, há décadas, pelos chamados “países desenvolvidos” ao resto do mundo.
Indubitavelmente o ministro Guido Mantega deve ter muito trabalho, talvez perca algumas noites de sono, beba muito café ou ande um pouco estressado. Entretanto, nada justifica a tragédia verbal que deixou escapar, há uma semana, ao afirmar vergonhosamente que os investimentos na Educação brasileira quebrarão o país. Sim, isso mesmo. Reagindo de forma lamentável à aprovação dos 10% do PIB para o setor, pela Câmara dos Deputados no último dia 26 de junho, Mantega disse o seguinte:
“Passar para 10% de maneira intempestiva põe em risco as contas públicas. Isso vai quebrar o Estado brasileiro”.
Na epistemologia popular, quem fala demais dá bom dia a cavalo. Foi o caso. A repercussão frente à declaração não poderia ser diferente. Movimentos sociais, estudantes, professores e a sociedade em geral, que conhece bem a realidade da educação pública no país, reagiram em tom uníssono. Na opinião de todos, além de ser, obviamente, infeliz e impopular, a tolice dita pelo ministro é também equivocada.
“Desde o início desse governo o movimento social brasileiro vem apresentando, contundentemente, suas críticas, seus olhares sobre a política econômica do país, considerando inclusive a crise internacional que se coloca. Sabemos que o único investimento seguro é o investimento direto nas pessoas, o investimento social, nos direitos básicos como a Educação, ainda mais em um país como o Brasil, com injustiças sociais absurdas e históricas a serem corrigidas”, afirma o presidente da UNE, Daniel Iliescu.
Segundo Iliescu, os movimentos sociais vem protestando há mais de um ano contra a política de juros altos, superávit primário e, principalmente, cortes em setores como a saúde e educação. “10% do PIB para a educação brasileira quebra muita coisa sim. Quebra paradigmas falidos e conservadores sobre a economia, quebra o ciclo de descaso com a escola pública, com seus professores e alunos, quebra a síndrome de covardia do Estado brasileiro em fazer o que ele mais precisa: justiça social.”, protesta.
Em entrevista ao site da UNE, o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Daniel Cara disse que o ministro foi “irresponsável” e que a declaração é “decepcionante”. Assim como o presidente da UNE, apontou as inconsistências da fala ministerial: “Aprovamos 10% do PIB para a educação pública, ou seja , um investimento direto em dezenas de milhões de brasileiros que não podem pagar pela educação. Dessa forma, o PNE com 10% é, na verdade, o mais sério projeto de redistribuição de renda do país”, afirma, justificando o fato de os 10% serem, na verdade, a grande solução também econômica para o Brasil.
Daniel Cara acredita que, em meio aos trâmites para a aprovação definitiva do PNE e dos 10%, a fala do ministro apareça como um gesto de terrorismo. “Esse governo e o governo anterior foram eleitos pelo povo justamente com a idéia de que a esperança iria vencer o medo. Porém, agora o ministro investe em criar o medo, tentando dizer que mais educação é algo perigoso para o futuro do Brasil”, opina.

BRIGANDO COM CARMINHA

Uma simples pesquisa pelo termo “Guido Mantega” no twitter comprova que a popularidade do ministro, no ranking nacional, não deve estar em uma posição muito distante da de Carminha da novela “Avenida Brasil”, a vilã mais comentada do Brasil no momento. Entre os milhões de internautas que repudiam a declaração anti-educação, estão formadores de opinião dos mais diversos, como o apresentador de TV Marcelo Tas, o músico Tico Santa Cruz, o deputado federal Chico Alencar (PSOL), o senador Cristóvam Buarque (PDT) e mais outros inúmeros, famosos ou anônimos.
Em caráter mais oficial, a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) rebateu o ministro por meio de um documento sólido, sob o título “10% do PIB para a Educação é compromisso com o país”. Durante o texto, a CNTE explica didaticamente a importância dos investimentos no setor para a economia brasileira e, principalmente, para a vida da população.
“O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstrou que para cada R$ 1,00 investido na educação, obtém-se um retono de R$ 1,85 – sendo este o maior entre todas as políticas públicas sociais e econômicas com impacto no Produto Interno Bruto.”, diz um trecho da carta.
Leia aqui a íntegra do documento da CNTE
Em texto semelhante, que rebate com qualidade, números e argumentos de sobra as boçalidades ditas contra os 10% para a Educação, o colunista Vladmir Safatle, da Carta Capital, demonstra que esse investimento é decisivo e fundamental para o futuro do país. De quebra, dá uma aulinha a Mantega incluindo uma nova variável econômica no cálculo sobre a questão: o indesejado investimento crescente das famílias na educação privada.
“Há duas maneiras de aumentar a capacidade de compra dos salários: aumento direto de renda ou eliminação de custos. Nesse último quesito, os custos familiares com educação privada são decisivos. A criação de um verdadeiro sistema público de educação seria o maior aumento direto de salário que teríamos”, elucida.
Leia aqui na íntegra o artigo de Vladimir Safatle.
Segundo o presidente da UNE, mesmo se houver opiniões e declarações contrárias, o movimento a favor dos 10% irá somente aumentar: “Queremos acreditar que tenha sido somente uma infelicidade do ministro, um momento de pouca lucidez de sua parte. Porém, mesmo que haja a verdadeira oposição a essa pauta, o movimento estudantil irá ampliar a sua mobilização, vamos ocupar as ruas, as universidades, os gabinetes em Brasília, as redes sociais e todos os espaços. O Brasil não pode recuar”, promete.
Fonte: une.org.br por Artênius Daniel

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