segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ex-combatente confirma uso de injeção letal no Araguaia

Um ex-policial militar que combateu na Guerrilha do Araguaia (1972-1974) afirmou que ouviu de Walter da Silva Monteiro, um médico militar aposentado de Belém (PA), que a aplicação de injeções letais era um "golpe de misericórdia" em guerrilheiros comunistas combalidos pela tortura e maus tratos.


É o quinto ex-combatente do conflito que reconhece o coronel da reserva do Exército como sendo o "capitão Walter", médico que atuou na guerrilha. No domingo passado, o jornal Folha de S.Paulo publicou os relatos de outros quatro ex-soldados que reconheceram Monteiro por meio de foto.


Dois ex-combatentes, em gravação feita pelo grupo do governo federal que procura ossadas do conflito, levantaram a hipótese do uso das injeções pelo médico. Eles diziam, no entanto, que só tinham ouvido falar na relação entre Monteiro e as mortes pelo método químico. Já Josias Souza, 59, afirmou que o próprio coronel comentava sobre a vantagem das injeções.


"Ele próprio [dizia]: 'Vamos evitar uma bala, que custa mais', e aí acho que tinha um tom de brincadeira com vidas humanas, 'e vamos fazer isso de forma mais suave'", disse o ex-soldado.


Procurado pela Folha, Walter da Silva Monteiro negou ter participado da guerrilha. Afirmou que, no período, estava em Belém.


Souza -que aceitou dar seu nome, mas não mostrar seu rosto em vídeo gravado pela reportagem- estava no final de sua adolescência quando chegou, em 1974, na região do Araguaia. Após mais de um mês combatendo na selva, passou a trabalhar na base de Xambioá (TO), onde conviveu com o "capitão Walter".


Lá, afirmou, ajudou a retirar da enfermaria 17 cadáveres de guerrilheiros. Os corpos eram enterrados em covas verticais, cavadas pelos próprios presos, ou jogados, de helicóptero, em uma cachoeira no meio da mata.


Ele acredita que ao menos parte dessas pessoas foi morta com as injeções, chamadas de "mercadoria". Souza disse não ter presenciado as aplicações, mas chegado "no final do capítulo", "porque não se ouvia naquele momento tiro, e o comentário dos oficiais e a ordem [era] de conduzi-los [os cadáveres] a um local para que fossem colocados outros [guerrilheiros]" na enfermaria da base.


O ex-combatente hoje sofre de depressão, e diz ser incapaz de esquecer os gritos dados por guerrilheiros que eram torturados. "Até hoje isso me machuca muito. Eu tenho sofrido muito nas minhas noites, porque fica arquivado. O pior juiz fica dentro da nossa própria cabeça", disse.




Fonte: Folha de São Paulo

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