Julião Neto, ex-ajudante de feirante, contribui para feito histórico do boxe brasileiro
Boxeador, que não conheceu o pai, revela drama que sua mãe passou para criar sete filhos
Com a família de Julião Neto comemorando a classificação para Londres
Muitas vezes, falar do passado mexe com as emoções. Mas, Julião Neto não fugiu da luta. Na feira, ele trabalhou como ajudante de sua mãe. Agora, virou um atleta olímpico e contribuiu para o Brasil formar a maior delegação (sete) de boxe para a disputa de uma edição de Jogos Olímpicos.
Na última sexta-feira, na disputa da semifinal do Pré-Olímpico das Américas, realizado no Rio de Janeiro, o boxeador derrotou o equatoriano Jose Meza, pela categoria até 52kg. Com a vitória, por 14 a 10, o atleta fechou o grupo que vai competir em Londres. Radiante com o feito alcançado, Julião lembrou de sua trajetória no esporte e de tudo o que fez na vida para conseguir vencer.
- Se eu falar da minha vida dá vontade de chorar. Minha mãe foi uma batalhadora. Ela alimentou e criou sete filhos sem a presença do meu pai, que morreu e eu nem conheci. Vendia roupa, trabalhou em casa de família, mas não deu certo. Então, ela foi trabalhar na feira. Eu ajudei muito ela nesse período trabalhando como ajudante de feirante. Já passei por muita coisa nessa vida - relatou, com lágrimas nos olhos.
Na infância, ele acordava cedo e pegava no pesado para ajudar a mãe. O ritmo ajudou o atleta na prática do boxe. Com muita determinação para a modalidade, Julião se tornou um vencedor. Apesar da imensa admiração pelos irmãos, que seguiram um bom caminho e se tornaram trabalhadores, o atleta "deu um direto" em dois deles.
- Dois irmãos meus também queriam ser lutadores. Porém, ninguém quer passar essas dificuldades. Muitas vezes, temos que passar fome. Ontem, eu praticamente não pude comer. Só bebi água. Isso tudo para não perder na balança. Perder antes de subir no ringue é complicado - contou.
Nas últimas edições de Jogos Olímpicos, o Brasil conseguiu classificar um bom número de representantes. Em Atlanta (1996), Sydney (2000), e Pequim (2008), o país contou com seis atletas. Mas, os resultados não foram muito expressivo. A única medalha foi conquistada na Cidade do México, em 1968. Servílio de Oliveira perdeu na semifinal para o mexicano Ricardo Delgado e ficou com o bronze na categoria mosca.
- Vou dar continuidade ao trabalho e aos treinos para, em Londres, conseguir conquistar um lugar no pódio. Qualquer medalha será bem vinda, mas uma de ouro será melhor ainda, será muito especial. Tenho fé em Deus que vou conquistar um bom resultado - disse o Julião, que, em agosto de 2010, se formou Marinheiro para disputar os Jogos Mundiais Militares, realizados no Rio de Janeiro.
O paraense, de 30 anos, garante que nas Forças Armadas aprendeu uma outra cultura. Julião revelou alguns castigos que o fazem andar na linha na Marinha. Mas, para o ex-feirante que virou um atleta olímpico, sua vida mudou após vestir a farda branca.
- Na Marinha, o cara aprende a ser gente! Temos que andar sempre respeitando a todos. Por qualquer coisa, eles colocam a gente para pagar dez (fazer flexões). A Petrobras (patrocinadora do atleta) e a Marinha são tudo para minha vida. É com isso que consigo ajudar a mamãe, que consigo mandar um dinheiro para ela. Ela sempre foi um pai e uma mãe para mim. Fico muito feliz com isso - finalizou.
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